segunda-feira, 8 de março de 2010


O Poço




Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.

Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?

Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.

Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.

Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.

Radiosa me sorri
se minha boca fere.

Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.

Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.

Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres

(Pablo Neruda)

Acordei com saudade dos grandes poemas...das grandes frases...da sensibilidade artística que não vemos mais tão explicitamente hoje.
Pode ser por que hoje é Dia da Mulher...por de simplesmente por que eu tô afim...
Como muitos outros, Neruda fala por mim tb...sentimentos tão grandes e puros e intensos que não ouso - e não sei - expor...então, me deixo levar pelas palavras dele...me seduzir pelas linhas bem escritas...e me deleito sorrindo ao final de cada poema lido...

Um comentário:

Bárbara disse...

Ai que coisa mais linda!!!
As vezes dá saudade mesmo... aiieee, amei!
e mais lindo ainda o que tu screveu sobre ele!
beijos!!!


*ps.: respondendo ao teu comentário... se os quatro forem retardados, aí o caso é grave e merece camisa de força!haahhaa