Quando o dia está cinza assim eu quase posso sentir o gosto gris que vem da chuva...
Se eu fechar um pouco os olhos e pensar em algumas coisas, eu quase posso sentir o gosto.
Algumas lembranças são muito palpáveis...
Tem uma música do Pete Murray, So beautiful , que diz: "God, my fingers burn, now when I think of touching your hair...". Sim, meus dedos queimam se eu penso em tocar alguma coisa... dá pra quase sentir a textura da lembrança... o cheiro de certas comidas e ruas; das flores e folhas secas; do mar e da terra molhada; certos perfumes... O frio no rosto após as lágrmas caírem. A dor nas bochechas depois de crises de rir...
Quando as coisas estão assim, eu paro e reflito horas sobre muitas coisas...fico devaniando, curtindo minhas lembranças (depois de um tempo tudo que temos é lembrança), fico pensando em pessoas como a minha vó...
Minha vó tem 91 anos. Lúcida, forte, temperamental. Libriana. Meio portuguesa, meio Italiana.
Minha vó perdeu o único homem que ela amou a 40 anos. Nunca mais casou. Nunca mais quis outro homem (ou mulher, pra registrar! hehe). Até hoje guarda o último vidro do licor que ele fazia pra viajar, como se, se ela botasse fora o licor, ele também fosse ser colocado fora por ela.
Ela olha a foto dele antes de dormir todos os dias. E tenho certeza que ela sente o cheiro dele nas lembranças da vida feliz que tiveram.
Quando ela fala dele, os olhos ainda enchem de lágrimas, e as lembranças são palpáveis, são reais, tão fortes agora quanto a 40 anos atrás.
Quão forte tem que ser uma lembrança pra te fazer sentir o gosto, mesmo 40 anos depois?
Quão forte tem que ser uma lembrança pra fazer teus dedos queimarem quando pensar em tocar tais cabelos, como diz Murray?
**Reorganizando minha vida. Criando novas lembranças.
Xoxo